Quando me olha perco o rumo chegando a me lançar na imensidão do desconhecido a olhar o fundo do abismo...Só enxergo seus olhos a me vigiar. E corro sem destino dentro da mente a procura de uma porta entreaberta tentando esconderijo da inquietude, no interior da grande sala há um quadro abstrato, nele seus olhos me dominam e me jogam no vazio. Realmente não sei o que sou e o que sou quando aqueles seus olhos me cobrem, lambem meu corpo e vasculham minha alma, agora entregue, a seus desejos e caprichos, vou me perdendo dentro do desconhecido a espera de suas mãos que nem conheço.
Sei que é terrível igualmente ilegal e nada estético. Naquele domingo acordei as 10 e sem escovar os dentes, ah, e um café amargo no estômago, corri rapidinho e cai na rua onde paralela há uma feira cheia de gente que murmura vendavais de assassinatos ao português. A banca de CDs pirata fui correndo, claro, movido pelo desejo de renovar minha particular videoteca de DVDs piratas. É a maravilha do domingo, é o momento que me sinto um marginal sem limites, ou melhor, limitado aos 10 reais que tenho no bolso ao término de cada semana.
Como sempre, nenhuma maravilha cinematográfica, somente os terrores sem medo e a ação sem razão, não me esqueço que há os mais assistidos, aquelas comédia sem graça. Incrível como até mesmo a transgressão anda sem conteúdo, tantos clássicos a copiar e o povo quer mesmo o velho pastelão... Ainda tenho esperanças em assistir aquele lindo DVD do Dream Theater (Score 20th ), mais o coitado do cara nem sabe o que é um bom metal orquestrado, dança loucamente ao som da dupla instrumental e vocal do momento, Vitor e Léo … Saio sempre estressado e sem rumo, caio na banca de pasteis e saio pelo menos uns 5 quilos mais gordo e uns 50 pontos a menos no QI, que por si só já não é tão alto, sem contar o risco quase certo de tomar cana com saborzinho de barbeiro, claro, é o ingrediente secreto da mistura popular.
Aquele dia foi diferente, apesar de hematomas mentais devido a grande cultura local, tive a curiosidade de olhar por de trás da barraca de frutas, foi onde vi aqueles olhos azuis... Por instantes me senti mergulhando no abissal mar, era lindo e misterioso, sentia uma mudança constante de temperatura ao mesmo tempo em que as vozes sumiam, o mundo girava devagar e as paredes do racional ruíam sobre um terremoto tenebroso, era o medo do desconhecido... Acordei com aquele carrinho cujas rodas carregavam casca de banana a passar sobre meus pés abrigados em chinelo, o grito foi tão grande que a feira parou a me olhar, recolhido na vergonha perdi aqueles olhos. Não voltei a vê-los naquele dia, mesmo voltando a feira inúmeras vezes a comprar em parcelas quilinhos de coisas que nem precisava.
Semanas passaram e era novamente domingo. Certo que em feiras anteriores percorri todas as cochias das barracas a procura dos olhos azuis e nada. Naquele domingo junto a minha irmã jogávamos “vôlei”, o objetivo era bater em carros e pessoas chatas que pra lá e pra cá passavam sem nada das mãos, de certo os feirantes adoravam, afinal, carroço merece bolada. Em um boteco a bola teimou em cair, curiosamente fui buscar, coisa que nunca faço pois fico a espera de alguem que passe e a lance de volta, enfim, ao levantar com ela em mãos, não resisti e olhei o interior do bar, não foi surpresa quando sobre mim os olhos azuis pousaram, o mundo novamente parou, os sons sumiram e somente uma música sussurrara em meu ouvido baixinho The Answer Lies Within (live Dream Theater Score, procurem no Youtube) e eu levitava lentamente rumo ao mar daqueles olhos, cheguei a ficar tonto, tentava desviar meu olhar daqueles em busca de um rosto mais era impedido pelo fascínio do azul profundo e celestial a me afogar sem medo, parei somente com a buzina soada pelas poderosas pregas vocais de minha irmã. Novamente perdi aqueles olhos, mais uma vez sem um rosto.
Incrível e estranho, não sei quem carrega aqueles olhos, se homem, se mulher, não sei, só sei que nada sei além do que sinto quando sou olhado por eles, é com toda certeza a coisa mais estranha que me aconteceu, a sensação de perder o mundo e o controle sobre o que quero, sou subitamente controlado por eles. Sei que quando nos olhamos somente vimos os olhos um do outro, desejo isso, principalmente por que nas manhãs de domingo sempre estou de pijama e descabelado... E não adianta procurar a origem dos olhos, nunca descubro o carcereiro que os afastam de mim.
Ainda descubro o dono daqueles olhos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário