segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

O beijo


Em que dia doei meus lábios ao seu único desejo?
Eles ainda sentem o gélido doce de seus lábios.
Em que dia lancei mão de meus dedos?
Eles passam os segundos a recordar a suave textura de seus cabelos.

De minha mente já não sou dono,
Ela vaga a procurar teu corpo em labirintos de saudade,
Caindo em precipícios de lembranças,
ressurgindo em agonizantes horas.

Aqui é inverno,
tudo morre e parece marrom.
Espero que me beije...
“Enquanto meus lábios ainda estiverem vermelhos”

Eu queria mesmo era ser um cão ...


Antes de seus lábios me tocarem
O gosto amargo do mundo corria pelos cantos da boca
A saliva era um ácido corroendo a alma
e as corres eram todas pálidas.

Me recordo da vez em que vi o mundo
era vivo, constante e sábio
igualzinho a você.

Me perguntei se era o mundo ou o seu mundo
Ô pergunta sem resposta!
Então vaguei atrás de consegui-las.
E como é complicado descobri-las!

Temos de derrotar nosso medo e o medo de ter medo
Talvez por que o medo dá medo
e o próprio medo nos faz sentir o mais ridículo dos medos
o medo do medo de ter medo
Viver no mundo dos outros é o medo

Primeira vitória é sair a rua e fugir do cachorro
Bichinho chato! Teima em agir como o dono da rua
Não que seja gato,
mas teimam em correr atrás dos meus pés.
Esqueci do dia em que coloquei minha cauda a disposição das mordidas!

A coisa mais estranha do mundo é viver nele
Complicação, não sabemos se a felicidade está em nós
ou se procuramos nos outros nossa felicidade.

Digo isso depois de procurá-la muito dentro de você
Percorri longas estradas sem qualquer sombra,
as esquinas eram mortas e não haviam almas.

Acredito que todas vaguem dentro do meu quarto
Sobretudo quando esperava seu corpo e ele não estava lá
E noites passei jogando conversa com espectros
curiosamente não haviam respostas, só o silêncio.

Certa vez vi um mendigo,
era sujo e desgastado pelo tempo,
como a uma montanha.

Inquieto sentei ao seu lado
Ridículo fui a ponto de perguntar o que era,
tão curta e verdeira foi sua resposta:
“Quem é você que questiona minha essência?
Se teu sentido de viver não sabe a ponto de perguntar a montanha ”

Ele ouviu meus pensamentos?
Olhei na poça de urina e percebi não reconhecer o que via
A resposta vem de onde não esperamos,
Basta agir como cão...
Demarcar meu mundo com um jato de urina.

Não é ridículo, pense bem
Um cão não vive o mundo dos outros como vivi o seu,
defende o seu com os dentes sem ter nunca crise de identidade após olhares de reprovação.

A simplicidade da vida está em aprender com a observação
a explicação está nos instintos,
sangrando e fazendo sangrar deixamos de pensar.

O que matou meu mundo foi o pensar
pensando vivi em pensamentos, e eles eram sempre pra você
“Viver é melhor que sonhar”
Talvez um dia responda ao mendigo quem sou
daí continuarei a ser o que não sei que sou?.

Como se ele montanhas se importassem com cães...
Ao menos ele sabia oque era,
Eu? Continuo sem saber.

Procuro resposta não mais em seus beijos,
eles não são tão bons assim...
Tem gosto de fruta do pé,
sem os bichinhos!

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Contravenção vigiada


Quando me olha perco o rumo chegando a me lançar na imensidão do desconhecido a olhar o fundo do abismo...Só enxergo seus olhos a me vigiar. E corro sem destino dentro da mente a procura de uma porta entreaberta tentando esconderijo da inquietude, no interior da grande sala há um quadro abstrato, nele seus olhos me dominam e me jogam no vazio. Realmente não sei o que sou e o que sou quando aqueles seus olhos me cobrem, lambem meu corpo e vasculham minha alma, agora entregue, a seus desejos e caprichos, vou me perdendo dentro do desconhecido a espera de suas mãos que nem conheço.

Sei que é terrível igualmente ilegal e nada estético. Naquele domingo acordei as 10 e sem escovar os dentes, ah, e um café amargo no estômago, corri rapidinho e cai na rua onde paralela há uma feira cheia de gente que murmura vendavais de assassinatos ao português. A banca de CDs pirata fui correndo, claro, movido pelo desejo de renovar minha particular videoteca de DVDs piratas. É a maravilha do domingo, é o momento que me sinto um marginal sem limites, ou melhor, limitado aos 10 reais que tenho no bolso ao término de cada semana.

Como sempre, nenhuma maravilha cinematográfica, somente os terrores sem medo e a ação sem razão, não me esqueço que há os mais assistidos, aquelas comédia sem graça. Incrível como até mesmo a transgressão anda sem conteúdo, tantos clássicos a copiar e o povo quer mesmo o velho pastelão... Ainda tenho esperanças em assistir aquele lindo DVD do Dream Theater (Score 20th ), mais o coitado do cara nem sabe o que é um bom metal orquestrado, dança loucamente ao som da dupla instrumental e vocal do momento, Vitor e Léo … Saio sempre estressado e sem rumo, caio na banca de pasteis e saio pelo menos uns 5 quilos mais gordo e uns 50 pontos a menos no QI, que por si só já não é tão alto, sem contar o risco quase certo de tomar cana com saborzinho de barbeiro, claro, é o ingrediente secreto da mistura popular.

Aquele dia foi diferente, apesar de hematomas mentais devido a grande cultura local, tive a curiosidade de olhar por de trás da barraca de frutas, foi onde vi aqueles olhos azuis... Por instantes me senti mergulhando no abissal mar, era lindo e misterioso, sentia uma mudança constante de temperatura ao mesmo tempo em que as vozes sumiam, o mundo girava devagar e as paredes do racional ruíam sobre um terremoto tenebroso, era o medo do desconhecido... Acordei com aquele carrinho cujas rodas carregavam casca de banana a passar sobre meus pés abrigados em chinelo, o grito foi tão grande que a feira parou a me olhar, recolhido na vergonha perdi aqueles olhos. Não voltei a vê-los naquele dia, mesmo voltando a feira inúmeras vezes a comprar em parcelas quilinhos de coisas que nem precisava.

Semanas passaram e era novamente domingo. Certo que em feiras anteriores percorri todas as cochias das barracas a procura dos olhos azuis e nada. Naquele domingo junto a minha irmã jogávamos “vôlei”, o objetivo era bater em carros e pessoas chatas que pra lá e pra cá passavam sem nada das mãos, de certo os feirantes adoravam, afinal, carroço merece bolada. Em um boteco a bola teimou em cair, curiosamente fui buscar, coisa que nunca faço pois fico a espera de alguem que passe e a lance de volta, enfim, ao levantar com ela em mãos, não resisti e olhei o interior do bar, não foi surpresa quando sobre mim os olhos azuis pousaram, o mundo novamente parou, os sons sumiram e somente uma música sussurrara em meu ouvido baixinho The Answer Lies Within (live Dream Theater Score, procurem no Youtube) e eu levitava lentamente rumo ao mar daqueles olhos, cheguei a ficar tonto, tentava desviar meu olhar daqueles em busca de um rosto mais era impedido pelo fascínio do azul profundo e celestial a me afogar sem medo, parei somente com a buzina soada pelas poderosas pregas vocais de minha irmã. Novamente perdi aqueles olhos, mais uma vez sem um rosto.

Incrível e estranho, não sei quem carrega aqueles olhos, se homem, se mulher, não sei, só sei que nada sei além do que sinto quando sou olhado por eles, é com toda certeza a coisa mais estranha que me aconteceu, a sensação de perder o mundo e o controle sobre o que quero, sou subitamente controlado por eles. Sei que quando nos olhamos somente vimos os olhos um do outro, desejo isso, principalmente por que nas manhãs de domingo sempre estou de pijama e descabelado... E não adianta procurar a origem dos olhos, nunca descubro o carcereiro que os afastam de mim.

Ainda descubro o dono daqueles olhos.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Esquecendo as entrelinhas



Sussurre ao vento meu nome e o faça reproduzir uma sinfonia a dizer que me ama.

Quando abro os olhos a despertar do sono por instantes não vejo as cores do mundo, meus sonhos são visíveis e quase os posso tocar. Lentamente vou tomando a realidade em meus braços ao mesmo tempo os olhos mareados pela falta do que nunca tive vão refletindo as inquietações da alma a muito perdida em abismos escuros a procura de seus beijos.

É, não sou mesmo um bom guia a mim mesmo. Por vezes me perco em pensamentos em plena fuga, tropeço sempre em suas lembranças e, curiosamente, nem conheci a textura de sua pele, igualmente desconheço o sabor de seus beijos, conheço apenas o perfume e a intensidade de sua palavras, sei que se confunde as vezes com o cheiro das flores que plantei no jardim a indicar o caminho da estrada por onde você sempre passa rumo aos meus braços. Quem sabe assim você percebe que eu existo e apesar da distância e da aparente dificuldade que há pode ser que as coisas se acertem e você perceba que gosto de você. Vale tentar.

Sempre tento, a menos que perceba e saiba que a tentativa é perdida, lançada em uma jogada já falha por já haver um desbravador em seu coração. Se eu pudesse encontrar com ele mediria a extensão do amor, só não sei quem me deu esse direito. Talvez não precise dele, precise apenas dizer a alguem que amo, quem sabe esse carinha fuja ao ver em meus olhos a imagem de seu sorriso com um nariz de palhaço.

Perdido vou escondendo as coisas, só não consigo esconder de minha mente. Ela vasculha possibilidades e mergulha nas incertezas. Eu nem sei direito quem é você, só conheço as entrelinhas de suas linhas e busco nestas as verdades que quero ouvir. Estranho é a paixão, a gente a segura com as mãos e a perde entre os dedos, o espaço de fuga é exatamente a distância entre o que penso que sei e o que realmente sei de você.

Ocorre a mim que não sei dizer claramente o que quero, e é tão chato por que nem sei se posso deslocar espectativas a você, é muito estranho tudo isso, estranho até para traduzir as inquietudes que se chocam em minha mente. Muitas vezes nos apaixonamos pelas possibilidades e deixamos o concreto correr entre as frestas, daí o tempo passa e este endurece e já não é nosso, assentou os azulejos de outras construções.

Seria simples fazer diretamente a pergunta – Você está a fim de saber o que sinto? - Falta a a coragem de saber se posso. Sussurre ao vento meu nome e o faça reproduzir uma sinfonia a dizer que me ama. Quero arrancar o nariz de palhaço que esconde seu rosto e tomar seus lábios em meus, conhecer as linhas e enterrar as entrelinhas.
Caio Jj César

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Como vejo o mundo


"Minha condição humana me fascina. Conheço o limite de minha existência e ignoro por que estou nesta terra, mas às vezes o pressinto. Pela experiência cotidiana, concreta e intuitiva, eu me descubro vivo para alguns homens, porque o sorriso e a felicidade deles me condicionam inteiramente, mas ainda para outros que, por acaso, descobri terem emoções semelhantes às minhas.

E cada dia, milhares de vezes, sinto minha vida — corpo e alma — integralmente tributária do trabalho dos vivos e dos mortos. Gostaria de dar tanto quanto recebo e não paro de receber. Mas depois experimento o sentimento satisfeito de minha solidão e quase demonstro má consciência ao exigir ainda alguma coisa de outrem. Vejo os homens se diferenciarem pelas classes sociais e sei que nada as justifica a não ser pela violência. Sonho ser acessível e desejável para todos uma vida simples e natural, de corpo e de espírito.

Recuso-me a crer na liberdade e neste conceito filosófico. Eu não sou livre, e sim às vezes constrangido por pressões estranhas a mim, outras vezes por convicções íntimas. Ainda jovem, fiquei impressionado pela máxima de Schopenhauer: “O homem pode, é certo, fazer o que quer, mas não pode querer o que quer”; e hoje, diante do espetáculo aterrador das injustiças humanas, esta moral me tranquiliza e me educa. Aprendo a tolerar aquilo que me faz sofrer. Suporto então melhor meu sentimento de responsabilidade. Ele já não me esmaga e deixo de me levar, a mim ou aos outros, a sério demais.

Vejo então o mundo com bom humor. Não posso me preocupar com o sentido ou a finalidade de minha existência, nem da dos outros, porque, do ponto de vista estritamente objetivo, é absurdo. E no entanto, como homem, alguns ideais dirigem minhas ações e orientam meus juízos. Porque jamais considerei o prazer e a felicidade como um fim em si e deixo este tipo de satisfação aos indivíduos reduzidos a instintos de grupo.

Em compensação, foram ideais que suscitaram meus esforços e me permitiram viver. Chamam-se o bem, a beleza, a verdade. Se não me identifico com outras sensibilidades semelhantes à minha e se não me obstino incansavelmente em perseguir este ideal eternamente inacessível na arte e na ciência, a vida perde todo o sentido para mim. Ora, a humanidade se apaixona por finalidades irrisórias que têm por nome a riqueza, a glória, o luxo. Desde moço já as desprezava.

Tenho forte amor pela justiça, pelo compromisso social. Mas com muita dificuldade me integro com os homens e em suas comunidades. Não lhes sinto a falta porque sou profundamente um solitário. Sinto-me realmente ligado ao Estado, à pátria, a meus amigos, a minha família no sentido completo do termo. Mas meu coração experimenta, diante desses laços, curioso sentimento de estranheza, de afastamento e a idade vem acentuando ainda mais essa distância. Conheço com lucidez e sem prevenção as fronteiras da comunicação e da harmonia entre mim e os outros homens. Com isso perdi algo da ingenuidade ou da inocência, mas ganhei minha independência. Já não mais firmo uma opinião, um hábito ou um julgamento sobre outra pessoa. Testei o homem. É inconsistente.

A virtude republicana corresponde a meu ideal político. Cada vida encarna a dignidade da pessoa humana, e nenhum destino poderá justificar uma exaltação qualquer de quem quer que seja. Ora, o acaso brinca comigo. Porque os homens me testemunham uma incrível e excessiva admiração e veneração. Não quero e não mereço nada. Imagino qual seja a causa profunda, mas quimérica, de seu sentimento. Querem compreender as poucas idéias que descobri. Mas a elas consagrei minha vida, uma vida inteira de esforço ininterrupto.Fazer, criar, inventar exigem uma unidade de concepção, de direção e de responsabilidade. Reconheço esta evidência. Os cidadãos executantes, porém, não deverão nunca ser obrigados e poderão escolher sempre seu chefe.

Ora, bem depressa e inexoravelmente, um sistema autocrático de domínio se instala e o ideal republicano degenera. A violência fascina os seres moralmente mais fracos. Um tirano vence por seu gênio, mas seu sucessor será sempre um rematado canalha. Por esta razão, luto sem tréguas e apaixonadamente contra os sistemas dessa natureza, contra a Itália fascista de hoje e contra a Rússia soviética de hoje.

A atual democracia na Europa naufraga e culpamos por esse naufrágio o desaparecimento da ideologia republicana. Aí vejo duas causas terrivelmente graves. Os chefes de governo não encarnam a estabilidade e o modo da votação se revela impessoal. Ora, creio que os Estados Unidos da América encontraram a solução desse problema. Escolhem um presidente responsável eleito por quatro anos. Governa efetivamente e afirma de verdade seu compromisso.
Em compensação, o sistema político europeu se preocupa mais com o cidadão, com o enfermo e o indigente. Nos mecanismos universais, o mecanismo Estado não se impõe como o mais indispensável. Mas é a pessoa humana, livre, criadora e sensível que modela o belo e exalta o sublime, ao passo que as massas continuam arrastadas por uma dança infernal de imbecilidade e de embrutecimento.

A pior das instituições gregárias se intitula exército. Eu o odeio. Se um homem puder sentir qualquer prazer em desfilar aos sons de música, eu desprezo este homem... Não merece um cérebro humano, já que a medula espinhal o satisfaz. Deveríamos fazer desaparecer o mais depressa possível este câncer da civilização. Detesto com todas as forças o heroísmo obrigatório, a violência gratuita e o nacionalismo débil. A guerra é a coisa mais desprezível que existe. Preferiria deixar-me assassinar a participar desta ignomínia.

No entanto, creio profundamente na humanidade. Sei que este câncer de há muito deveria ter sido extirpado. Mas o bom senso dos homens é sistematicamente corrompido. E os culpados são: escola, imprensa, mundo dos negócios, mundo político.

O mistério da vida me causa a mais forte emoção. É o sentimento que suscita a beleza e a verdade, cria a arte e a ciência. Se alguém não conhece esta sensação ou não pode mais experimentar espanto ou surpresa, já é um morto-vivo e seus olhos se cegaram. Aureolada de temor, é a realidade secreta do mistério que constitui também a religião. Homens reconhecem então algo de impenetrável a suas inteligências, conhecem porém as manifestações desta ordem suprema e da Beleza inalterável. Homens se confessam limitados e seu espírito não pode apreender esta perfeição. E este conhecimento e esta confissão tomam o nome de religião. Deste modo, mas somente deste modo, soa profundamente religioso, bem como esses homens. Não posso imaginar um Deus a recompensar e a castigar o objeto de sua criação. Não posso fazer idéia de um ser que sobreviva à morte do corpo. Se semelhantes idéias germinam em um espírito, para mim é ele um fraco, medroso e estupidamente egoísta.Não me canso de contemplar o mistério da eternidade da vida.

Tenho uma intuição da extraordinária construção do ser. Mesmo que o esforço para compreendê-lo fique sempre desproporcionado, vejo a Razão se manifestar na vida”.


ALBERT EINSTEIN

quarta-feira, 4 de junho de 2008

O corcel fantasma cavalgando no monte ilusório colorido por seus olhos.



Houve um tempo em que fechando os olhos
éramos transportados para um mundo colorido.
As cinzas caindo do céu transmutavam-se em gélidas gotas de perfume
e o vento sussurrava doces canções a ninar a mente.
O sol não mais ardia, clareava tão somente o dia que era límpido
onde as estrelas maiores não eram fixas
aos meus olhos saltavam, sem destino certo
no abismo das incertezas.

As ondas do mar já não quebravam no costão rochoso,
contrariando a lógica transformavam-se em gotículas
a salpicar nosso corpo abrigo sobre a pedra.
Neste instante os olhos fitavam o horizonte,
onde barcos a deriva percorriam a escuridão do imenso desconhecido,
a clonar exatamente a profundidade de seu olhar...
Eu me perdi.

Curiosamente não havia questionamento,
não havia o contar do tempo e o soprar do vento,
não havia a condição ou a contradição,
só mãos juntas repousando sobre o nosso mundo.
Mundo este em que seu destino era o meu, e o meu o seu
destino nada calculado, nem tão pouco temido,
medido e sentido sob contornos espaciais ilógicos de infinito.
O infinito eram as curvas do seu corpo,
corpo este a se chocar com o meu ao sabor das ondas.

Pegamos aquele barco em pensamento navegamos
não havia vela nem remo,
nem espaço e nem tempo
nem vendo e sequer pensamento
sem lenço ou documento,
percorríamos as horas
em barco fantasma na imensidão do mar sem fim.

O tempo era o infinito,
o horizonte comprido,
a terra fofa, fina e limpa
onde castelos fizemos e moramos
medievais eram os segundos
onde com espada e escudo protegia o jardim
jardim este dono de uma flor
a colhi em seus lábios.

Seu néctar era doce,
doce como algodão-doce
seu beijo era molhado,
não era um pecado
não tinha começo ou fim
tão somente era mensurado
sob régua de um apaixonado.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Crepúsculo do olhar (confusão colorimétrica dos sentidos)



Houve uma eterna e única fagulha de luz saindo de seus olhos negros como fim dos tempos vindo em minha direção a observar meus lábios enquanto falava imensidão de delírios sentimentais e decaia em sonhos vãos com olhos fechando e abrindo sem pressa a espera daquele seu beijo.

Curiosamente a lua brilhava enquanto nuvens doces pairavam cinzas sobre o céu negro, nós já deitados sobre a grama verdinha e molhada pelo orvalho contávamos estrelas montando flores entregues um ao outro, o vento sobrava brisa perfumada por seus cabelos espalhados ao sabor do acaso entrelaçados em meus dedos a segurar seus braços delicadamente enquanto que seus irmãos dedos deslizavam sobre seu rosto frio ao luar ainda mais branco pesando sobre meus lábios intensamente vermelhos e vibrantes.

A luz do seu olhar negro se perdeu no abismo dos meus olhos mel enquanto as retinas agitavam-se rapidamente procurando uma fuga do prazer e da intensidade pujante de sons agonizantes e delirantes banhados pela fina chuva caindo lentamente ao nosso corpo fervente atacado por gélidos calafrios a esmo insistentes fazendo tremer sua perna em falso na grama pressionada pelo peso do meu corpo meio suado a procurar abrigo nas curvas do seu.

A grama cozia enquanto o orvalho evaporava, redemoinhos perfumavam e os olhos procuravam repouso da agitação rotativa e saltitante, os lábios se perdiam nos rios de seus iguais a espera de uma língua nada declamante apenas andante a deslizar sobre o assoalho lingual ao mesmo tempo que o corpo sentia no outro o abir e fechar dos póros em cada calafrio e gemido.

O Sol vinha nascendo, o silencio retomando o cenário, ao longe flores abriam suas corolas e beija-flores repousavam seus bicos, nossos olhos a observar o nascimento de arco-íris sombrios e o voo de borboletas, segundos compartilhados pelo entrelaçar de mãos, pernas e viajar da mente em busca da eternização do momento, guardado em páginas já amareladas por um tempo em que guardado na gaveta da mente permaneceu a confissão de horas épicas no campo desconhecido e semeado do desejo perdição de em seus olhos viajar sem destino assistindo fechá-los ao toque de meus lábios, girando sem nexo ou destino aparente na imensidão do pecado de sonhar em ter você só pra mim.